CROATIAN AMOR (showcase 15 anos Posh Isolation)
Croatian Amor é uma metáfora do esbatimento conceptual que acontece num Antimuseu: dinamarquês, a apontar o uso latino de uma sentimento aos Balcãs, ainda consegue a proeza da acrobacia estética na sua expressão, onde ambient, eletrónica, noise e algumas sonoridades ditas como leftfield se cruzam com toque impressionista.
Além de se afirmar enquanto Croatian Amor, Loke Rahbek coordena a editora Posh Isolation, uma essencial incubadora de talentos das vertentes mais curiosas da eletrónica escandinava. No Antimuseu cabem mais do que um curador.


DJ LYNCE
Pedro Salvado Santos é o que toda a mostra de arte sonora precisa: um dedicado explorador da expressão musical, o DJ portuense mexe-se agilmente por entre todos os quadrantes e tem o argumentário nos pratos de nos pôr a ouvir o que ele acha que devemos ouvir. Foi, aliás, assim que moveu caves e discotecas por todo o país a pisotearem pisos, pistas e soalhos de forma sincopada ao som dos seus bpms. No Antimuseu, Lynce apresenta-se como anti-dj, ou melhor, como produtor e música — um infiltrado que usa a linguagem da pista de dança para acelerar a audiência até velocidade de escape e entrar em órbita com batidas quebradas, sintetizadores ácidos e uma vontade hardcore.


DJ VELUDO
Veludo é crença aproximada na ausência da categorização. Sem papéis, sem pronomes, sem certos ou errados, o que se espera na pista de dança é música que defenda a dissolução da exigência social e que nos traga um espaço de liberdade e expressão física. 
Estuda Etnomusicologia, uma ocupação apropriada para qualquer momento museológico, mas é nos outputs (não nos inputs, que canaliza) que melhor faz mexer, como se esperaria de um bom prefixo "anti" escrupulosamente aplicado. É o que faz através de sets um pouco pelo Porto, do Passos Manuel ao Torto, da sua escrita no Rimas e Batidas, e de colaborações como com o festival Neopop, Veludo escreve e escuta a tempo inteiro, mas fazer ouvir nunca será part-time.

MIGUEL PEDRO
Todo o trabalho de Miguel Pedro na música encaixa com a ideia de derrubar fronteiras e de experimentar novos formatos, o que o torna especialmente apto para enquadrar num Antimuseu. Ora a pegar em ideias do que é "rock" nos Mão Morta, onde o cruzamento entre o analógico e o digital, o orgânico e o sintetizado, a poesia e a prosa guiaram mais do que um entendimento estético sobre o que pode ser fazer música.
Recentemente, tem-se debruçado sobre as práticas eletrónicas, quer a solo, quer no duo Fura Olhos, através do qual cria texturas sonoras mais vívidas do que qualquer boçal paisagem. Fazer ver-se o som é uma qualidade rara e que deveria ser mais apreciada. Felizmente, temos Miguel Pedro para o fazer acontecer.

oqbqbo (showcase 15 anos Posh Isolation)
Vinda com o selo de qualidade da Posh Isolation, Nastya Sipulina, mais conhecida por oqbqbo canaliza intenções lofi em detalhadas camadas de som, cruzando o bucólico do ambient com as síncopes mais relaxadas do techno e do house, num misto de contradições que resulta apenas em coerência. Num Museu, esperar-se-ia a oposição de elementos; no Antimuseu, como em oqbqbo, a coexistência da antítese resulta numa sobreposição de ideias e de expectativas curiosa, como se o que se ouve fosse uma versão das várias waves, principalmente da vaporava, processada num computador quântico: sem erros, sem glitches, apenas júbilo estético com imaculada produção. 

VANITY PRODUCTIONS (showcase 15 anos Posh Isolation)

Vanity Productions é mais um membro espiritual da irmandade escandinava da Posh Isolation, e isso sente-se na alma do nome, que reverbera o mesmo sarcasmo mordaz. Mais distante da eletrónica de batidas, Christian Stadsgaard sobrepõe camada sobre camada de drones, recorrendo à saturação do espectro sonoro para provocar o sentimento oposto do ambient: ansiedade, furor e torpor por via de parede assoberbante de som. Não há som que Vanity Productions não faça reverberar até que todo o espaço em que se move esteja preenchido na totalidade, seja nas paredes amovíveis de um Antimuseu, seja numa sala de concertos, seja no mundo infinito que existe na nossa mente — todo o mundo é insuficiente para todas as vibrações de ar que move.