Do aparecer liminar

Paradoxal é, talvez, o aparecimento liminar. Mas é assim que, frequentemente, o aparecer se constitui, no diáfano, numa forma cujos limites se permitem apresentar sem se manifestar absolutamente, naquela que é uma corporeidade que se encontra num estado entre, em que a abertura e o fecho colidem, gerando uma imagem intencionada – uma identidade em devir. É também assim que o conceito de corpo aparece nesta exposição, emergindo do jogo dialético da transparência com a opacidade, numa transitoriedade performada pelo grupo de estudantes e pelas ideias que os inquietam. Os trabalhos desta exposição delineiam-se na medida em que assumem existências efêmeras e em latência, fruto das suas condições experimentais de materialização. Tornam-se aparições que exercitam e tensionam os seus limites e os dos espaços, confrontam as suas próprias subjetividades em suas diferentes inscrições sociopolíticas, testam a capacidade escritural dos corpos como suportes memoriais e indiciais, produzem hibridismos formais derivados de reatualizações tanto artísticas quanto mitológicas. É nesse ensaio de práticas de questionamento dirigidas ao corpo, às suas afeções e às materialidades, que as possibilidades e impossibilidades poéticas do aparecimento se realizam. Tal aparecimento é desejado como uma potência no interior destas Jornadas: a projeção de um horizonte do sensível para quem nele tomou parte.

Amanda Midori e Ludgero Almeida

Amanda Midori e Ludgero Almeida são artistas visuais, educadores e investigadores. Amanda Midori atua desde 2007 na educação não-formal em instituições e associações culturais. Pesquisa nas áreas da mediação cultural, da educação artística e da prática artística colaborativa. Ludgero Almeida baseia o seu trabalho em arquivos, documentação fotográfica, relatos históricos e memórias afetivas. Através dele, tem elaborado questões sobre a ausência, a materialidade e o político. Desde 2012, tem exposto individual e coletivamente em Portugal, Espanha e Brasil.