Histórico
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Os programas artísticos nos quais o CIAJG estrutura a sua ação funcionam como uma lente de observação do mundo. São propostas em construção, abertas e plurais.
2021/23
Nas margens da ficção
Com o título Nas margens da ficção e a curadoria-geral de Marta Mestre, o novo programa artístico do CIAJG, que decorrerá até 2023, sucede a Para além da história, programa que completou oito anos (2012-2020) e teve a autoria de Nuno Faria.
Nas margens da ficção debruça-se sobre o fazer ficcional da arte e remete para a polifonia e o emaranhado de vozes, muitas vezes contraditórias, que disputam o museu, caminhando para dar margem à ficção através de uma imaginação que se dirige para o real e o regenera. Reativando o contar e o narrar, o programa convoca formas de conhecimento esquecidas ou em desuso, especulações digitais, tradições orais, construções mitológicas, fábulas, especulações.
“Trata-se de reativar as formas simples e ‘impuras’ de narração, marginalizadas e desqualificadas pelo projeto moderno-capitalista. Num mundo onde as crises são permanentes e anestesiam a nossa capacidade de resposta, importa estabelecer outras ferramentas de ação. Usar intensivamente a ficção no rearranjo entre nós e os outros e experimentar formas de existirmos juntos é uma forma de reescrever a gramática do museu, questionando os seus processos de seleção e exclusão. O museu é a máquina, a engrenagem, deste fazer ficcional e narrativo. Espaço tradicional da purificação dos discursos, mas também da fratura entre objetos, subjetividades e ideias, importa repensá-lo” refere Marta Mestre, curadora geral do CIAJG.
Estas ideias serão exploradas ao longo dos próximos três anos através de ciclos de exposições e programas públicos compostos por visitas, conversas, debates, sessões de cinema e performances.
O museu abre-se a uma permanente crítica e construção. O que narram hoje os artistas, que fabulações inventam? Como olham o passado? Que vozes animam eles com as suas ficções? O que nos contam sobre o fim do humano e o fim do mundo? Que narrativas e mitos nos propõem num mundo em que a proximidade e a distância se reconfiguram? Responder a estas perguntas é a experiência que guia este programa artístico, cujo título é um pedido de empréstimo ao ensaio homônimo do filósofo francês Jacques Rancière para quem “o real precisa de ser ficcionado para ser pensado”.
2012/20
Para além da história…
De 2012 a 2020 foi realizado, pelo curador Nuno Faria, o programa Para além da história. Contou com oito edições, envolvendo as palavras, objetos, gestos e imagens de artistas, escritores, músicos e pensadores. Surgido no ano de inauguração do CIAJG, afirmou o carácter investigativo e experimental do centro no panorama museológico nacional, propondo um reencantamento da experiência estética para lá da História e das conceções tradicionais de arte.
Num escrutínio crítico à exposição permanente, o programa repensou a condição do museu e da arte, fazendo conviver, no CIAG, objetos com histórias, sentidos e origens diferentes. Alicerçado no fundamento antropológico e misterioso da arte e numa noção não linear do tempo, proporcionou outros modos de ver e ouvir.
Mumtazz, António Poppe, Pedro A. H. Paixão, Otelo MF, Thierry Simões, Susana Chiocca, Francisco Janes, Mariana Caló e Francisco Queimadela são alguns dos vários artistas que participaram neste projeto, do qual se salientam exposições investigativas tais como Ernesto de Sousa e a Arte Popular, Carlos Relvas - Um homem tem duas sombras, Inquéritos ao Território: Paisagem e Povoamento e Oracular Spectacular, desenho e animismo.
O [CIAJG] é feito com um conjunto de objetos que tínhamos, mas, também, com um território que ocupámos. Desde o início que procurámos esta convivência entre os fetiches da arte africana e os objetos da região, como os ex-votos em cera. Esta relação entre a estranheza e a familiaridade, entre a proximidade e a distância, entre a autoria e o anonimato, ficaram muito postas em casa. O programa junta estas coisas todas e, por isso, expande e, ao mesmo tempo, coloca em causa os próprios fundamentos da autoria da arte contemporânea. Por isso, o [CIAJG] é um sítio muito desafiador e eminentemente crítico do processo canibalístico da produção artística contemporânea. (Nuno Faria)
https://contemporanea.pt/edicoes/01-2018/entrevista-com-nuno-faria